Num esforço inédito, multiplicam-se as vacinas válidas no combate à pandemia, menos de um ano depois do seu inicio. A última barreira para derrotar o vírus, vai começar a estar disponível a partir do princípio do próximo ano.
O nosso problema é que ter vacinas, não é ter bom senso. O que nos pode continuar a complicar a vida.
Já começámos mal. Quando ouvi falar da comissão que, tarde e a más horas, foi constituída, lembrei-me logo de uma expressão atribuída a Salazar. “Se queres alguma coisa feita, nomeia um homem, se não, nomeia uma comissão”. Neste caso a tarefa não é complicada: muitos países já apresentaram os seus planos, pelo que uma grande base de trabalho já está disponivel. Aprender com os outros não parece má ideia.
Um pouco por todo o mundo, parece que a prioridade é começar por proteger os mais vulneráveis. Aqueles que mais probabilidade têm de poder morrer em consequência de uma infecção. Os mais velhos, em especial quem está em lares e aqueles que apresentam morbilidades letais, são escolhidos como os mais prioritários. A ideia é simples, combater em primeiro lugar os efeitos realmente graves do Covid, as mortes que provoca. E só depois erradicar a infecção na restante população. A falta de vacinas em quantidade suficiente, obriga a um particular cuidado na atribuição das primeiras vacinas disponíveis, de forma a obter o maior impacto positivo , o mais rapidamente possível.
O meu receio é a nossa extraordinária tendência para a originalidade. E que inventemos que, em vez de combatermos os efeitos realmente indesejáveis da pandemia (as mortes), nos concentremos em reduzir a doença, o número de infectados.
Mesmo que consigamos praticamente erradicar a mortalidade, espera-nos outro desafio. Deixar de estar obcecados com o numero de infecções (tendencialmente não letais) e retomar a normalidade das nossas vidas. Diminuindo os custos de saúde publica da pandemia, não há razão para suportarmos tantos custos económicos e sociais como até agora.
O que a história recente nos ensina é que não vale a pena estarmos demasiado optimistas. Termos a vacina a caminho pode ser o mais fácil. Termos bom senso, pode ser mais complicado.
Como diria Jack o Estripador, temos que ir por partes.
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